Nara quem o procurou. Gozando da aparência, espírito e vigor da flor da idade, não teve dificuldade em atraí-lo. Guilherme, a despeito da imagem que sustentava diante dos amigos, de homem incorruptível diante do amor, parecia, a cada dia, mais e mais condescendente ao encanto artificial de Nara. Sim, artificial, pois a ela, nunca ocorreu, em hipótese alguma, envolver-se verdadeiramente. Tanto não ocorreu que, desde o início, viu nele a melhor oportunidade de pôr à prova o sentimento de Inês.
Envolvia-se, indistinta e assumidamente, com ambos os gêneros e, no momento, relacionava-se com a mais bela jovem da cidade. Criada, em pleno século vinte e um, em um castelo fantasiado, acostumada às regalias proporcionadas pela mãe e, principalmente, pela vó, Inês foi, sem sombra de dúvidas, sua melhor conquista, e também, a mais difícil. Suspeitava, face aos constantes desentendimentos com a companheira, que essa não a tratava de acordo, não a exaltava em excesso e, por conseguinte, não a amava. Nara gostaria, portanto, de uma prova, de seu sentimento, em primeira instância, e do próprio, em segunda. Assim sendo, planejou: conquistar Guilherme e despertar ciúmes em Inês.
Inês, na verdade, nunca a tratou a contento. Dispensava, com frequência, demonstrações de afeto e carinho. Furtava-se, com direito, de mimá-la sem motivos. Constantemente, desagradava-a em suas opiniões e respostas. De fato, não desejava agradá-la renunciando das próprias convicções e personalidade. Apesar disso, gostava, sim, da companheira, tanto quanto, ou mais, de Guilherme.
Guilherme, por sua vez, avesso aos relacionamentos modernos, comprometia-se, exclusivamente, com mulheres. Entre os amigos, era o mais famoso pela quantidade de relacionamentos simultâneos que sustentava. Entregava-se, de bom grado, a qualquer oportunidade casual, mas guardava, em segredo, uma paixão inenarrável por Inês. Obviamente, deprimiu-se ao saber do envolvimento desta, com outra, e até cogitou expurgar tal sentimento. A esperança, entretanto, reacendeu quando Nara o procurou. Presumindo o futuro, vislumbrou um relacionamento a três. Para ele importaria, claro, somente Inês.
Nara, no entanto, foi categórica na execução do plano. Exigiu segredo a Guilherme. Este, almejando algo maior, aceitou. Ela, propositalmente, descuidou-se quanto ao próprio pedido. Foram vistos juntos e o boato chegou aos ouvidos de Inês que, tomada por ciúmes, de ambos, interpelou a companheira. Negando tudo, de acordo com o plano, Nara ainda envenenou a verdade. Jurou que foi Guilherme quem a procurou. Em seu discurso de defesa, ainda se declarou novamente.
Inês, confusa, fechou-se em si mesma. Recebeu de Nara, durante tal período, cuidados, preocupações, carinhos e atenções inimagináveis. De fato, nunca fora tão bem tratada. Quando finalmente abandonou o casulo das reflexões, Nara, presente, destilou o pedido:
— Se me ama, pare de falar com Guilherme.
De fato, Inês parou e, transformada, mudou completamente o tratamento a ela, dedicando-lhe tudo. Guilherme, como cobaia, atendera todos os propósitos. Por meio dele, Nara não apenas assegurou-se do sentimento da parceira, como também percebeu, aliviada, a verdade nua e crua: não, ela nunca amou Inês.
Gustavo Scussel