Os irmãos

cliff-jumping— Vai ou não vai?

— Vou — respondeu Lucas, sem mover, no entanto, um músculo.

O irmão mais velho, duvidando, provocou:

— Parece mulherzinha. Vai ou não vai? — repetiu.

— Vou!

Lucas, irritado, encheu os pulmões, deu dois passos curtos e calculados, e se jogou. Todos, principalmente o irmão, aproximaram-se cuidadosamente da beirada do rochedo para olhar. Ouviram, apenas, o estouro na água, metros abaixo, entre os penedos.

Por um instante a respiração de Maurício ficou suspensa. A cada milésimo de segundo, pensava o pior em relação ao irmão mais novo. Só suspirou aliviado quando Lucas, subitamente, emergiu das águas. Agradecido, fez, disfarçadamente, claro, o sinal da cruz diante do peito.

O grito eufórico, de vitória e adrenalina, alcançou todos os espectadores. Empolgado, Lucas convidou:

— Vem, Maurício!

Os amigos incentivaram. Um dos presentes chegou a perguntar:

— Você vai?

Maurício não respondeu. A ideia o congelava. O pulo, para ele, era uma ideia estúpida e arriscada demais. Desconversou:

— Hoje não. Já estou seco.

Foram embora. No caminho, Lucas, sentindo-se sobre-humano, insinuou ao irmão, entre os amigos:

— Amarelou, não foi?

Todos, sem exceção, caçoaram Maurício, que deu de ombros. Caiu a noite e os irmãos esqueceram o pulo heroico.

No dia seguinte, entretanto, zombaram novamente o mais velho. Lucas, inesperadamente, fora elevado ao posto de mais corajoso. Maurício ignorou a pilhéria. Possuía, de fato, incontáveis motivos que lhe sustentavam a posição agora ocupada pelo irmão. Exatamente por essa razão, não se incomodou. Sabia, no íntimo, que o episódio logo seria posto de lado.

Passaram-se dias e, com efeito, o episódio foi esquecido, até o final de semana em que se reencontraram na praia. Maurício fora obrigado a levar o caçula, pois a mãe, contrariada, exigira. Na areia, ele, e não o mais velho, foi recebido como rei, surpreendentemente. Exaltaram-se com a lembrança do mergulho. Aqueles que presenciaram o momento se incumbiram de relatar o pulo aos que não assistiram. Narraram, com riqueza de detalhes, a altura das pedras e o perigo do salto. Acrescentaram, até, mais coragem que aquela verdadeiramente utilizada por Lucas, que ouviu, cheio de orgulho, a própria história. Então, inevitavelmente, vexaram Maurício outra vez.

— Como pode, hein? — perguntou alguém. — O irmão mais novo ser o mais corajoso…

Outro agitou:

— Se eu fosse o mais velho, teria vergonha!

Não faltaram comentários e risadas que, pouco a pouco, enfureceram Maurício. Foi tomado por tamanho sentimento de repulsa e relutância — em aceitar a condição de irmão mais velho e, no entanto, mais fraco — que, pondo-se de pé com violência, avisou aos demais:

— Querem saber? Vou pular agora!

Custaram acompanhá-lo. Chegaram a tempo de vê-lo livrar-se da camiseta e dos chinelos. Lançou-se de cabeça entre a fenda, mirando a água. Não fez barulho. Mergulhara perfeitamente bem. Ovacionaram o feito, mas Maurício não retornou à superfície. Lucas, preocupado, atirou-se em seguida, influenciando gritos entusiásticos ainda maiores. O clamor emocionado só arrefeceu quando notaram que nenhum dos dois reapareceria.

Gustavo Scussel