A esteticista

Bernardo passara a sentir uma atração indizível pela esteticista que frequentava desde a época em que suas sobrancelhas se juntavam acima do nariz. O motivo ele nunca soube ao certo — talvez fosse o cheiro do creme para mãos que ela usava, o decote que o fascinava ou, simplesmente, a fantasia de atrair uma mulher como ela. Fato era que, a cada quinze dias, Bernardo via a si mesmo diante de uma tentação quase incompreensível de arriscar um olhar mais sugestivo, um convite indecente ou um beijo repentino.

Para Alessandra, entretanto, nada passava despercebido. Sabia, graças a sua experiência, o significado exato dos intermináveis preâmbulos que Bernardo usava ao conversar com ela. Por isso mesmo, divertia-se com as situações em que se encontravam quando, ao estender uma conversa ou outra, acabavam sozinhos na clínica, momentos esses em que, não raro, ela se sentava o mais confortavelmente possível e se permitia deleitar com as expressões que Bernardo deixava transparecer ao percorrer os olhos por ela.

Em uma dessas vezes, no início do anoitecer, inclinada a provocá-lo, Alessandra disse:

— Não gosto da forma como o barbeiro do estabelecimento ao lado me olha.

— Por quê? — perguntou Bernardo, fisgando a isca de imediato.

— Porque é como se ele quisesse me atacar. Não tem um pingo de vergonha para olhar para os meus seios — explicou ela, deslizando, no mesmo instante, uma das mãos sobre eles. — E quando olha mais para baixo, para a… você sabe… ele faz um barulho horrível com a boca, como se estivesse morrendo de sede.

A narração, com efeito, deixou Bernardo inquieto. Mesmo escutando-a com toda a atenção, focado apenas em seus olhos, ainda assim deixou ser levado pela maneira como Alessandra tocara o próprio seio. O gesto, por menor e mais natural que tenha sido, o pegara desprevenido e o enfeitiçara como ela bem imaginara.

— Uma falta de respeito — disse ele, por fim, genericamente e em transe.

— Se ainda fosse um rapazinho novo, bonito… Quem sabe?

A risada de Alessandra o levou para longe dali. Bernardo sentiu, naquela deliciosa gargalhada, uma espécie de gemido, um júbilo enigmático. Riu junto como um disfarce, pois imaginava, simultaneamente, a brancura da pele que ela escondia sob a roupa, e o que faria se pudesse tocá-la. Então, temendo que não pudesse ocultar o resultado de seus pensamentos, despediu-se e foi embora.

Quinze dias depois, diante das mesmas circunstâncias (ele era o último cliente e estavam novamente sozinhos na clínica), enquanto conversavam sobre amenidades, ela aconselhou:

— É melhor arriscarmos fazer tudo aquilo que temos vontade enquanto estamos solteiros, e sem termos medo de ouvir um “não”.

— Tudo? — perguntou Bernardo, vislumbrando, de repente, uma oportunidade.

— Tudo!

— E se a pessoa se afastar, depois de dizer “não”?

— Sinal de que é uma pessoa boba!

— Então quer dizer que… — Bernardo não terminou a frase. A coragem desapareceu de súbito.

Alessandra, embora não precisasse ouvir aquilo que, no íntimo, sabia de antemão, insistiu no restante da frase incompleta, mas nada obteve.

Nas duas semanas seguintes, não apenas os fios da sobrancelha de Bernardo cresceram mais rápido, como também suas divagações envolvendo Alessandra se tornaram mais frequentes. Assim, a cada dia sentia-se mais e mais confiante, de tal maneira que, na sexta-feira, quando agendou seu horário, estava inteiramente determinado a arriscar um pedido ousado.

Na sala de espera, apesar do banho recém-tomado, Bernardo transpirava sob as axilas como se estivesse correndo. O nervosismo, combinado ao medo, minavam sua segurança pouco a pouco. Entretanto, forçava a si mesmo a levar em consideração o conselho que ouvira dela. E, se por um algum motivo algo não saísse como o planejado, pensava, talvez fosse a hora de trocar de esteticista.

Quando Alessandra acompanhou até a porta a cliente que atendia, uma nova onda de pânico assaltou Bernardo ao vê-la. Para ele, de algum modo e apesar do medo irracional, ela parecia ainda mais linda. O vestido preto terminava um pouco acima dos joelhos, e o decote… que decote! Nos pés, sapatilhas escuras e, nas orelhas, brincos dourados.
Ela o chamou e ele a seguiu ansioso. Bernardo deitou-se na maca agitado e inseguro. Quase confessou os pensamentos (como se fossem um crime) quando ela perguntou por que ele estava transpirando tanto, mas nada disse. Em vez disso, resistiu a dor. As sobrancelhas tiradas com a pinça doeram como nunca, e sentia como se, na verdade, era a pele que lhe estava sendo arrancada com violência. As lágrimas transbordavam nos olhos mesmo com as pálpebras fechadas. Tanto sofrimento para um pedido não revelado, pensava. E como julgava a si mesmo como um grande bobo.

— Está tudo bem? — perguntou Alessandra, sentando-se, como de costume, comodamente em sua poltrona ao final do atendimento.

Bernardo, finalmente sentado na maca e contando o dinheiro dentro de sua carteira, desconversou. Então, de repente, falou tudo aquilo que vinha pensando em um tipo de monólogo bêbado, a língua inteiramente enrolada.

Alessandra, aos risos, pegou o dinheiro, colocou as notas ao lado com visível desdém e, com a voz tranquila, o convidou a falar tudo outra vez e, se possível, pausadamente.
Bernardo a atendeu:

— Sou louco por você! Sonho acordado com você! Faria tudo por você!

Sim, sabia de tudo isso, nada era novidade para Alessandra. Por isso, fez questão de guiá-lo:

— Mas por que está dizendo isso? O que está pensando?

— Você disse que deveríamos arriscar, sem medo de sermos rejeitados! Estou pensando em te beijar e te ver sem roupa! Quero tudo e faço tudo por você!

— Tem certeza? — devolveu ela, os lábios se restabelecendo de uma risada muito alegre.

— Tenho certeza!

— Então, nesse caso, pode começar beijando as minhas pernas.

Bernardo foi imediatamente de joelhos ao chão. Tocou-lhe a panturrilha, sentiu sua pele como jamais imaginaria ser capaz de sentir. Aproximou-se, sentiu o cheiro do creme em suas pernas, fez-lhe massagem inconscientemente e, guiado por seu eu mais primário, beijou-a com sinceridade absoluta.

Alessandra, achando interessante os lábios de Bernardo em suas pernas, passou os braços por dentro das alças do vestido e as desceu. Desfez o fecho do sutiã deixando os seios caírem um pouquinho além do ponto que estavam antes, presos. Então, inclinando-se na direção dele, buscando na base de suas costas a barra de sua camiseta, deixou-o seminu exatamente como ela se encontrava.

As sardinhas, as auréolas, tudo fez Bernardo delirar. E de joelhos entre as pernas de Alessandra, passou a manejar, com as mãos, os seios dela, levando, um de cada vez, à boca.

Ela, segurando-lhe ternamente a cabeça com as mãos, experimentou uma entrega sincera. Sentia que, diante dessa devoção, nada mais precisaria para se deixar levar ao ápice. Mas seu corpo, exigindo instintivamente o contrário, demandava mais. Ainda assim, dona de si e experiente, preferia uma cama ao calor do momento que se desfaz em um instante. Por isso, interrompeu as carícias de Bernardo e disse:

— Por hoje é só.

Ele acatou de imediato. Sentia-se realizado e conferia a ela esse sucesso — deveríamos arriscar, como ela mesma dissera, sem medo de sermos rejeitados. Mas ao chegar em casa, uma nova insegurança se apossou dele, e em vez de arriscar mais uma vez, em duas semanas passou a frequentar uma nova clínica.

Gustavo Scussel