Enrolaram o baseado e, antes de o acenderem, ele decidiu:
— Vamos para o telhado!
A ideia surgiu espontaneamente. Rodrigo era cheio delas, e por isso Laura o adorava. Tornaram-se amigos sem querer. Talvez nem o fossem, se acaso não existisse a Cannabis sativa para aproximá-los. Os dois, a propósito, não chamavam a droga por esse nome, nem por qualquer outro conhecido, mas sim por “maRihanna”. Ideia de Rodrigo, claro, certa noite em que experimentou uma erva tão boa, ao som de um pop internacional, que resolveu batizá-la com o nome da cantora. Laura aprovou, empolgou e, mesmo sem um guarda-chuva, coreografou a música. Em sã consciência, jamais dançaria. No estado em que se encontrava, no entanto, e ao lado de Rodrigo, não sentia vergonha — não sentia ou simplesmente não se importava.
Passaram pela janela e chegaram ao telhado sem dificuldade. Observaram, àquela hora do domingo, as ruas desertas, iluminadas apenas pelas luzes amarelas dos postes. Vez ou outra, um par de faróis cortava em baixa velocidade o asfalto, assim como uma pessoa, a esmo, caminhava pela calçada. No alto da casa, obviamente, não se preocuparam em serem vistos. Assim, Rodrigo acendeu tranquilamente o cigarro e passou a ela. Laura o pegou, segurou melhor entre os dedos, levou à boca e o tragou por quatro ou cinco segundos. Rodrigo espantou-se com a força da puxada, e ela foi obrigada a segurar a risada para não abrir a boca. Quando finalmente exalou a fumaça, começou a inspirá-la pelo nariz. O efeito hipnotizou Rodrigo: um manto branco fluindo, casualmente, de baixo para cima. Quando chegou a sua vez, fez feio aos olhos dela: tossiu e engasgou. Mesmo assim, insistiu, depois voltou a repassar o cigarro.
Um carro surgiu na esquina. A lanterna do automóvel não os assustou, mas as luzes azul e vermelha no capô, sim. Não entraram em pânico, tampouco saíram do telhado. Apenas endireitaram a coluna, como um animal silvestre ao desconfiar de um predador. Permaneceram assim até a polícia se aproximar, bem abaixo deles, na rua, e subitamente, estacionar a viatura.
Do alto do telhado, ouviram um policial.
— Ele sentiu o cheiro — cochichou Rodrigo. Laura parecia estátua.
Os oficiais desceram e olharam ao redor. Então, de repente, um gritou:
— Ei! Vocês!
Ambos congelaram ainda mais.
— Encostem na parede! Agora!
Rodrigo e Laura não entenderam. Olharam para baixo e notaram um casal, como eles, na calçada.
— Vocês estão fumando?
— Não, senhor — respondeu o homem.
— De onde estão vindo? — questionou o oficial.
— Do culto, senhor.
— Do culto?
— Sim, somos da igreja.
— Que desculpa!
— Não é desculpa…
— Cale a boca! — atravessou ele. — E encostem na parede!
O casal obedeceu. Foram revistados, questionados e, por fim, liberados. Os policiais tornaram a olhar ao redor e não encontraram uma alva viva. Entraram na viatura e seguiram.
No telhado, ambos caíram na gargalhada. De súbito, Rodrigo parou e desceu às pressas. Reapareceu atravessando a rua. Na parede da casa adiante, desenhou uma erva e, em frente, escreveu: “Jesus apoia.”
Gustavo Scussel