Sobre o autor

Comecei a escrever à sério esses dias. Ou melhor: comecei a criar histórias recentemente. De certa maneira, sempre escrevi — no colégio, nos cupons de promoções dos supermercados (valendo carro zero quilômetro) e até mesmo nas divisórias dos fichários dos amigos. Desenhar letras e formar palavras sempre foi uma paixão e, por isso, sempre apreciei a caligrafia. Mas criar histórias, organizar ideias, revisar, enxugar o texto, lapidar cada oração e polir cada parágrafo, isso sim é algo recente.

Minha letra

Cheguei ao universo literário por meio de livros simples. O primeiro que li, nos primeiros anos do ensino fundamental, foi “Cuidado, não olhe para trás”, de Stella Carr. Depois “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon, e “O Riso da Morte”, de Luci Guimarães Watanabe. Daquela época, o livro mais marcante, pela fluidez da história, simplicidade e primor, foi “A Nudez da Verdade”, de Fernando Sabino. Li muito outros até o final do ensino fundamental, mas, de repente, me tornei preguiçoso. Na verdade, me desinteressei. Poucos foram os livros que achei empolgantes, que prenderam a minha atenção. Passei a lê-los em dois dias, às vezes um, mais para pôr fim ao “sofrimento” da leitura do que descobrir o final das histórias. Afinal, só precisava lê-los para as provas da matéria de literatura. O primeiro livro que comprei — com o dinheiro dos meus pais, diga-se — foi “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien. Toda as noites, quando me deitava para ler, sentia que eu morria pouco a pouco. Páginas e páginas para descrever uma árvore, ou os fogos mágicos de artifício da primeira festa no Bolsão… Era fatigante. Não cheguei ao final do primeiro livro, claro, e me rendi ao óbvio: fui logo ao cinema ver o filme.

Meu interesse pela leitura sofreu uma guinada no dia em que li a sinopse do livro “Sedução”, de Nicole Jordan. A natureza da história não correspondia àquela seção da livraria em que eu me encontrava — alguém provavelmente o deixara ali por preguiça de volta-lo ao lugar. Ainda bem! Nunca imaginei que uma história baseada na decadência e perversidade de uma sociedade do século XIX pudesse ser tão interessante — e excitante. Assim, aos dezesseis anos, li, sem querer, meu primeiro livro erótico, e naturalmente me tornei fã do gênero.

Em dois anos, adquiri um montante invejável de verdadeiros livros desse lirismo lascivo. Li clássicos sem saber que eram clássicos. Conheci Anaïs Nin, Marques de Sade, Henry Miller, Swinburne, Georges Bataille, John Cleland, Anne Desclos (Pauline Reage), Mary Gaitskill, Bukowski, Leopold Von Sacher-Masoch, Erica Jong, entre outros. Fui além, aos graphic novels eróticos: Milo Manara, Guido Crepax, Hugo Pratt, Paolo Eleuteri Serpieri, Enrico Teodorani, etc. Nunca me cansei desse tipo de história. Hoje, entretanto, nenhuma vale a pena. Não desapaixonei pelo gênero, mas as opções infelizmente acabaram.

Depois, perdi muito tempo com best sellers e autores estrangeiros. Descobri (antes tarde do que nunca) a verdadeira literatura por meio de nomes brasileiros e latino-americanos: Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, Mário de Andrade, Mário Vargas Llosa, Carlos Heitor Cony, Rubem Braga, Milton Hatoum, João Ubaldo Ribeiro, José de Alencar, Mário Benedetti, Otto Lara Resende, Marçal Aquino, Vanessa Bárbara… Essa lista, sim, é interminável, e felizes são aqueles que conhecem a perfeição de nossa língua por meio desses grandes autores.

Por admiração a eles, comecei a me aventurar nesse tipo de escrita, na criação, lapidação e evolução de uma história. E  nessa aventura, compreendi cedo que, quanto mais leio e escrevo, mais tenho a aprender e a crescer.