Amor e perdão

Break-Up-Scene-The-Trent-795x528— O que você sente por mim? — perguntou Regina. — Diga a verdade.

— A verdade? — retrucou Alisson, esperançoso. Depois, colocou-se na defensiva. — Ou é uma armadilha? Algo para você fugir assim que entender o que eu sinto?

Regina não quis responder. Gostaria de saber a verdade, mas também pretendia, sim, fugir. E Alisson soube identificar em seu olhar ambos os sentimentos. Regina era, por falta de um apelido perfeito, o dualismo em pessoa.

— Então? O que é? — pressionou.

— Por favor, não me deixe nervosa — respondeu ela, contento a ansiedade.

Alisson suspirou fundo, buscando paciência.

— Sempre a mesma coisa: na mesma hora em que está segura de si, também está frágil.

Os olhos de Regina começaram a marejar. Pronto: Alisson se arrependera da dureza das próprias palavras.

— Rê, não faça isso — disse, temperando a afirmação com carinho.

Não adiantava mais: os lábios de Regina já começavam a se curvar. Os olhos pouco a pouco foram revelando lágrimas e se avermelhando.

— Quero saber o que você sente de verdade, Alisson — enfatizou. Ele deu risada e ela se viu obrigada a continuar. — Não é nenhuma armadilha. Não vou fugir.

Alisson a observou profundamente por um instante. A boca de Regina teimava em se contrair. Ela sempre fazia isso, sempre forçava o choro de volta para dentro. Mas Alisson não se concentrou em seus padrões, e sim na esperança. Sim, sentia esperança de expor o sentimento sem afugentá-la, de tocar-lhe o coração sem assustá-la.

— O que eu sinto, Rê, é o que faz os meus olhos brilharem. É o que me faz pensar em você antes mesmo de desejar “bom dia”, e é também o que me leva a crer que será um bom dia. — Alisson fez uma pausa, retomou o fôlego e sorriu. — O que eu sinto é grande, enorme, gigante, mas não é pesado. Pelo contrário: é leve, suave, ilumina o lado de dentro. É perfeito. Mas só é perfeito por sua causa.

O choro de Regina embalou em lágrimas, mas também em sorrisos. Engasgava tentando conter um ou outro, mas ambos insistiam em sair juntos. Encarou o amor sincero assim, nesse semblante misto. Então, inevitavelmente, o beijou.

No dia seguinte, Regina fugiu, desapareceu. Transformou-se, em uma semana, em fantasma. Não apareceu ao trabalho, não recolheu a correspondência na portaria do condomínio, não saiu sequer com o próprio carro. O utilitário vermelho de quatro portas ainda estava lá, na mesma vaga, intacto, imóvel. Em um mês o celular sequer recebia ligações: qualquer chamada caía direto na caixa postal.

Alisson descobriu o óbvio da pior maneira possível. A propósito, como não seria? Era tão evidente, ela tinha fama. Regina desaparecera com outro homem, um que apenas a fizera sofrer. Quando retornou e procurou Alisson, fez questão de dizer o quão infeliz foi. Ela, acima de qualquer outra pessoa, confiava no perdão do antigo amor. Confiou cegamente e acertou, obteve o perdão. Já o amor que Regina desejou ter novamente, não.

O amor, agora, pertencia à outra mulher.

Gustavo Scussel